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TANTO SOL
Poema de Antonio Miranda
A bússola apontando para o sul.
As galinhas uivam
e os gatos assobiam;
os patos solfejam
e as vacas sonham.
Nestas terras abandonadas
não se pronuncia
o nome de Deus
sem o arrepio da dor
— clamor e penitência.
Carcarás domesticados
e jegues arrependidos.
Nestas terras de usura
não tem sossego
e perdão; tem gibão
e fogo na carnatura — ave de arribação.
Os pássaros desencanto
e romeiras e as rameiras
e os retirantes, penitentes
os esmoleres conformados
se os tropeiros
e os ciganos
— discursos ensarilhados.
Nas agruras do sertão
nas lonjuras insondáveis
vaga o homem e cisma
em seu confinamento
— tanto sol e solidão.
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